domingo, 29 de março de 2009

EBOLIÇÃO DA ESCRAVATURA _ Luís Carlos de Oliviera

A área de serviço é senzala moderna,

Tem preta eclética, que sabe ler “start”;

“Playground” era o terreiro a varrer.

Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,

Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha;

Não entra no novo quilombo da favela.

Capitão-do-mato virou cabo de polícia,

Seu cavalo tem giroflex (radiopatrulha).

“Os ferros”, inoxidáveis algemas.

Ração poder ser o salário-mímino,

Alforria só com a aposenadoria

(Lei dos sexagenários).

“Sinhô” hoje é empresário,

A casa-grande verticalizou-se.

O pilão está computadorizado.

Na última página são “flagrados” (foto digital)

Em cuecas, segurando a bolsa e a automática:

Matinal pelourinho.

A princesa Áurea canta,

Pastoreia suas flores.

O rei faz viaduto com seu codinome.

— Quantos negros? Quanto furor?

Tantos tambores... tantas cores...

O que comparar com cada batida no tambor?

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