sexta-feira, 24 de abril de 2009

Marivone gentilmente nos enviou _ Vejam!!!

Estou enviando para vocês, um Link de acesso à todas as revistas Veja, editadas pela Abril nesses últimos 40 anos. Da capa à contra-capa, incluindo todas as páginas.
É um trabalho impressionante e creio que servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.
Todas as edições de VEJA poderão ser consultadas na íntegra na web
A revista VEJA abre todo o seu acervo de 40 anos de existência na internet.
Todas as edições poderão ser consultadas na íntegra em formato digital no endereço
http://veja.abril.com.br/acervodigital/
A revista liberou o acervo em comemoração ao seu aniversário de 40 anos. A primeira edição de VEJA foi publicada em 11 de setembro de 1968.
O sistema de navegação é similar ao da revista em papel: o usuário vai folheando as páginas digitais com os cliques do mouse.
O acervo apresenta as edições em ordem cronológica, além de contar com um sistema de buscas, que permite cruzar informações e realizar filtros por período e editorias.
Também é possível acessar um conjunto de pesquisas previamente elaborado pela redação do site da revista, com temas da atualidade e fatos históricos.
Com investimento de R$ 3 milhões, o projeto é resultado de uma parceria entre a Editora Abril e a Digital Pages e levou 12 meses para ficar pronto. Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas. O banco Bradesco patrocinou a iniciativa.
Recomendem e repassem (se for o caso) aos seus filhos, familiares e amigos.

Um abraço e bom proveito.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

ATIVIDADE 1 ANO

01 - Relacionar as letras de música abaixo com as escolas literárias indicadas:


@@@@@@@ Trovadorismo

O Trovador
Altemar Dutra

Composição: (Jair Amorin / Evaldo Gouveia)

Sonhei que eu era um dia um trovador
Dos velhos tempos que não voltam mais
Cantava assim a toda hora
As mais lindas modinhas

De meu rio de outrora
Sinhá mocinha de olhar fugaz
Se encantava com meus versos de rapaz

Qual seresteiro ou menestrel do amor
A suspirar sob os balcões em flor
Na noite antiga do meu Rio
Pelas ruas do Rio
Eu passava a cantar novas trovas

Em provas de amor ao luar
E via então de um lampião de gás
Na janela a flor mais bela em tristes ais


@@@@ Trovadorismo

Queixa
Caetano Veloso

Composição: N.Siqueira / E. Neves

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Amiga, me diga...

@@@@@@ Trovadorismo


Sozinho
Caetano Veloso

Composição: Peninha

Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?


@@@@@@@ Trovadorismo


Incelença pro amor retirante

(Elomar)

Vem amiga visitar
A terra, o lugar
Que você abandonou
Inda ouço murmurar
Nunca vou te deixar
Por Deus nosso Senhor
Pena cumpanheira agora
Que você foi embora
A vida fulorô
Ouço em toda noite escura
Como eu a sua procura
Um grilo a cantar
Lá no fundo do terreiro
Um grilo violeiro
Inhambado a procurar
Mas já pela madrugada
Ouço o canto da amada
Do grilo cantador
Geme os rebanhos na aurora
Mugindo cadê a senhora
Que nunca mais voltou
Ao senhô peço clemência
Num canto de incelença
Pro amor que retirou.
Faz um ano in janeiro
Que aqui pousou um tropeiro
O cujo prometeu
De na derradeira lua
Trazer notícia sua
Se vive ou se morreu
Derna aquela madrugada
Tenho os olhos na istrada
E a tropa não voltou


02 - Selecione uma obra de arte que se relacione com o Classicismo e uma que se relacione com o Barroco. Apresente em que aspectos elas se aproximam e se distanciam.

ATIVIDADE 2 ANO

Analisar as letras abaixo e relacioná-las com a Escola Literária conforme indicado abaixo:


@@@@@@@@ - Segunda Geração do Romantismo - O movimento ultra romântico


(A) Vida Louca Vida
Cazuza

Composição: Lobão / Bernardo Vilhena

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

Se ninguém olha quando você passa você logo acha 'Eu to carente'
'Eu sou manchete popular'
Tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice
Desta eterna falta do que falar

Se ninguém olha quando você passa você logo acha que a vida voltou ao normal
Aquela vida sem sentido, volta sem perigo
É a mesma vida sempre igual
Se niguém olha quando você passa você logo diz 'Palhaço'
Você acha que não tá legal
Corre todos os perigos, perde os sentidos
Você passa mal

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

Se ninguém olha quando você passa você logo acha 'Eu tô carente'
'Eu sou manchete popular'
Tô cansado de tanta caretice, tanta babaquice
Desta eterna falta do que falar

Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida louca vida
Vida imensa
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa

(B) Amor Destrambelhado
Cássia Eller

Composição: ( Márcio Mello / LanLan )

Abra a porta do armário, tire suas roupas
Minha cara de otário, olha a sua muito louca
Já queimei todo o filme, e você o meu salário
Nosso vício é um crime, pra esse amor destrambelhado
O telefone é meu, a geladeira é sua
O nosso amor morreu e a vida continua
Já tá tudo acabado, nossa vida foi tão oca
Foi um jeito aviadado, negando um de boa moça
Veja bem se me entende, não dá mais pra ser escravo
De um romance adolescente
Um amor destrambelhado



@@@@@@@@ - Primeira Geração do Romantismo

Uma Arlinda Mulher
Mamonas Assassinas

Composição: Bento Hinoto / Dinho

Te encontrei
Toda remelenta e estronchada num bar,
entregue às bebida
Te cortei os cabelos do suvaco e as unhas do pé
Te chamei de querida
Te ensinei
Todos os auto-reverse da vida
E o movimento de translação que faz a Terra girar
Te falei
Que era importante competir
Mas te mato de pancada se você não ganhar!

Você foi
Agora a coisa mais importante
que já me aconteceu neste momento
Em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito
Complexo com a Teoria da Relatividade
Num momento crucial
Um sábio soube saber que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagafar os mafagafinhos
Bom amafagafigador será

Te falei
Que o pediatra é o doutor responsável pela saúde dos pé
O 'zoísta' cuida dos zóios e o oculista
Deus me livre, nunca vão mexer no meu!
Pois pra mim
Você é uma besta mitológica
com cabelo pixaim parecida com a Medusa
Eu disse isso
Pra rimar com a soma dos quadrados dos catetos
Que é igual à porra da hipotenusa

Você foi
Agora a coisa mais importante
que já me aconteceu neste momento
Até hoje em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito
Complexo com a Teoria da Relatividade
Num momento crucial
Um sábio soube saber que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagafar os mafagafinhos,
bom amafagafigador será

Eu fundei
A Associação Internacional
de Proteção às Borboletas do Afeganistão

Te provei por B mais C
Que as meninas dos teus zóio
não tem menstruação
Dar um prato de trigo pra dois tigres
E ver os bichos brigando é legal que só (miauuu...)
Pois nos 'tira e põe, deixa ficar' da vida
Serei sempre seu escravo-de-Jó

vamos para o fim!

Logo agora que você estava quase
entendendo o que eu estou falando (falando)
A canção está acabando e o Creuzebeck
está abaixando ali o volume (volume)
E você não entende nada mesmo porque quando
você estiver em sua casa nesse
momento a música vai tá baixinha (baixinha)
E você não vai entender nada mesmo
porque não sei por que eu tô falando
esse monte de besteira aqui já que estou...
Porra! Vamo parar com esse papo chato,
rapaz! (vamo lá)
Eu já não estou agüentando mais,
está doendo minha garganta
Eu tenho que fazer ali um gargarejo com vinagre,
soltei um peido aqui dentro (caralho!)
Está fedido o ambiente, meus dedos estão dormentes
Pelo amor de Deus, parem com esta porra!


@@@@@@@@ - Arcadismo

Casa No Campo
Elis Regina

Composição: Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais

domingo, 12 de abril de 2009

Dias de sombra, dias de luz ___ Jurandir Freire Costa

Sem o sonho de que os tempos sombrios passarão, viver serve para quê?

Começo pelas sombras. O Brasil vive uma escalada da violência urbana desorientadora. Quando a lista de atrocidades parecia esgotar-se, aparece mais uma figura do medonho, do horror dos horrores, a morte do menino João Hélio. Será que somos uma aberração coletiva apelidada de nação? Será que somos uma civilização sem amanhã? Talvez sim, talvez não. Seja como for, para evitar o dano mais grave é preciso admitir o evidente: criamos uma sociedade inconseqüente que se vê a braços com o pior efeito da inconseqüência humana: a carnificina monstruosa, na qual crianças matam crianças, sem se dar conta da imoralidade do que estão fazendo.

O assassinato de João Hélio por um adolescente que afirmou “não saber o que significa perder um filho assassinado porque nunca teve filho” mostra a face disforme do imaginário da terra de palmeiras onde cantam sabiás. O adolescente que disse ignorar o que é a dor de perder um filho assassinado porque nunca teve filho, exibiu, sem se dar conta, sua patológica cegueira de valores. Mas, sobretudo, mostrou que nunca teve a chance de saber o que é um pai, uma mãe, um filho, enfim, o que é amar e perder um ser amado a quem se deu a vida. Ao ser privado dessa experiência afetivo-moral básica, o jovem criminoso também foi privado de conhecer a distinção entre o justificável e o injustificável. A impiedosa engrenagem da miséria triturou sua capacidade de introjetar o sentido ético do que Levinas chamou de “infinita responsabilidade pelo Outro”!

Aí, porém, reside a trágica antinomia da condição humana. Apesar de não ter controle sobre as causas que o levaram a agir como agiu, o garoto é responsável pelo que fez, a menos que o consideremos um puro espectro humanóide, o que seria incomensuravelmente mais desumanizante. Podemos, é claro, conceder-lhe o benefício da ausência de consciência plena do crime cometido; podemos olhar com clemência a dolorosa história de vida que o fez praticar o que praticou, mas não podemos isentá-lo da autoria do seu ato. Conclusão: é nosso dever ético condenar e procurar mudar, por todos os meios possíveis, regimes socioeconômicos que favoreçam a formação moral de pessoas sem consciência do que seja crueldade. Caso contrário, estaremos permanentemente expostos a um terrível impasse ético, qual seja, não saber como julgar alguém que não teve condições de dar sentido a palavras como culpa, crime e castigo.

Renato Janine Ribeiro, ao comentar o homicídio do menino João Hélio, exprimiu esse mal-estar. A fantasia de vingança contra o assassino que lhe veio ao espírito, entretanto, nem significou incitação à tortura - longe disso!-, nem neutralidade moral em relação ao Bem e ao Mal. De minha perspectiva - e pode haver outra que não seja pessoal? -, ao escrever o que escreveu, ele pensou em carne viva e revelou um aspecto recalcado de nossa cultura, o convívio promíscuo com a barbárie. Reagindo como reagiu, mostrou o barro de que todos somos feitos, e seu discurso, por isso, foi objeto de numerosas contestações. Compreendo o sentido das objeções feitas, mas não concordo com a maioria delas.

Nós, universitários ou acadêmicos, não somos anjos prudentes com uma régua de virtudes à mão, prontos para dirimir, judiciosa e incansavelmente, o que é joio e o que é trigo. Nossa tola vaidade nos faz pensar, muitas vezes, que “os outros”, os incultos ou conservadores, podem tropeçar na própria ignorância e não saber o que dizem ou dizerem “não sei”. Nós, não! Nós somos embaixadores do Iluminismo, do Humanismo ou de qualquer outro “ismo”. Por conseguinte, vir a público falar do que sentimos em momentos de comoção moral e intelectual significa confessar o pecado leigo de lesa-razão! Crime, diz-se, é com a justiça, e fora da justiça não há salvação. Porém, o que chamamos de justiça, entendida como lei ou direito instituídos, não nasce da cabeça de Zeus. Nasce de um sentimento anterior, pré-reflexivo e pré-racional, adquirido mediante experiências psicológico-morais primárias, que ao longo das vidas pessoais e da vida cultural tornam-se familiares. Acontecimentos extraordinários do ponto de vista moral podem, assim, fazer-nos hesitar quanto à propriedade e a natureza do que julgamos justo ou injusto. Nestas situações, o moralmente indecidível pode emergir, posto que a enormidade do fato ocorrido força-nos a oscilar, de modo ambivalente, entre o “impiedoso, frio e impessoal” e o “compassivo, passional ou leniente”. Esse é um dos efeitos mais nocivos da anomia cultural: suportar a dúvida de estar sendo, simultaneamente, injusto com a vítima e com o algoz. No caso de João Hélio, como decidir entre a piedade devida a cada um e a equanimidade devida a todos? O que é mais justo: pedir o endurecimento na punição do responsável pela morte de uma criança inocente brutalmente assassinada ou argumentar, em favor do adolescente assassino, que ele jamais teve condições de entender, por questões psicológico-sociais, que o direito à vida é uma prerrogativa de qualquer ser humano?

Pode-se responder: podemos ficar ao lado dos dois, escolher um lado contra o outro, ou não querer pensar no assunto, pouco importa. O fundamental é que isto é da alçada da justiça válida para todos e não do arbítrio voluntarista ou dos espasmos emocionais de um só. Em parte, é verdade. Mas qual justiça, volto a perguntar? A dos códigos e protocolos ou a da aspiração ao respeito absoluto e inegociável pela singularidade do outro? O dilema é mais difícil do que se costuma fazer crer. Como bem apontou Olgária Mattos, não por acaso, Adorno, no julgamento dos nazistas, foi levado a dizer algo mais ou menos assim: não faria o menor gesto para condená-los à morte; não faria o menor gesto para poupá-los da morte! No mesmo tom, não foi algo semelhante que levou Hannah Arendt a dizer que há crimes sem perdão, pois aqueles a quem competeria perdoar já não podem mais fazê-lo, por terem sido mortos?

Naturalmente, o infeliz garoto assassino não é um nazista. Ele é um sobrevivente social a quem foi sonegada a mais elementar possibilidade de valorizar a vida do próximo. Isso - creio e defendo - é razão suficiente para julgarmos seu crime com indulgência, mas não é motivo para recalcar o horror que podemos sentir, ao imaginar o que João Hélio sofreu e o desespero alucinadodos pais que viram o filho ser morto como foi. O gênio da língua tarda, mas não falta. Dispomos, em português, de uma palavra para designar filhos que perdem pais, qual seja, “órfão”; não dispomos de palavra alguma para nomear o que se torna um pai ou uma mãe que perde um filho. Este estado é feito de uma dor que não se inscreve na linguagem. Ele é provação extrema; é o mais escuro vazio e a mais lenta agonia; é algo que nenhuma lágrima apaga, porque é a nudez implacável da morte no coração de uma vida que gostaria de não mais ser, e, que, no entanto, é obrigada a continuar sendo.

Diante dessa desmedida, afirmar que não se sabe o que fazer ou que se pode experimentar desejos de retaliação não significa jogar a ética na lama; significa mostrar que a malignidade de algumas circunstâncias sociais podem fazer o discernimento ético vacilar. Para alguns, isto é retórica vazia ou falta de coragem para tomar partido. Mas agir e pensar com justiça não é questão de tomar partido; é questão de experimentação sócio-moral, como sustentaram James, Dewey, Rorty; é questão de apostar, sem garantias e com riscos de frustração, na boa-vontade de nossos parceiros de vida em comum; é questão, enfim, do “perigoso talvez”, tão repetido pelo saudoso Derrida. O que fazer, então, para sanar este estado de coisas? Não há resposta fácil. Como, por exemplo, combater a secular injustiça brasileira, reforçando, ao mesmo tempo, as instituições democráticas, se dependemos, para isso, de parlamentares, que, na maioria, sequer se dão ao trabalho de ocultar do público a baixeza de seus mesquinhos interesses? Como fazer deste país um país tolerante, se os líderes intelectuais, empresariais, políticos etc, comportam-se como fanáticos encastelados em seitas ideológicas, sempre prestes a renunciar ao diálogo e à persuasão e a desqualificar com arrogância ou desdém a opinião do opositor? Como, enfim, restaurar o princípio da boa-fé atribuível, em primeira mão, ao outro, se vemos líderes políticos mentir despudoradamente ou empresários da locomotiva agrícola falando de “liberalismo”, enquanto literalmente escravizam ou deixam morrer por exaustão física seus empregados?

Não sou derrotista ou desistente. Há coisas nas quais podemos acreditar porque existem e podem ser feitas. Dou dois exemplos. O primeiro é o da conversa recente entre o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, e três governadores recém-eleitos. O ex-prefeito foi direto ao ponto: “polícia sem cidadania e sem reforma urbana é o mesmo que nada”. E, prosseguiu, “quando era prefeito, ao invés de gastar US$ 2,2 bilhões em auto-estradas que beneficiariam 15 %o da população de Bogotá, decidi usar o dinheiro em transporte público, e, com o que sobrou, investir em escolas de qualidade, bibliotecas, parques, ciclovias e melhorias das calçadas. Nós demos a cidade aos pobres que não tinham como usá-la”.

Tão simples quanto isso. Por que, então, já não fizemos o óbvio? Porque, de um lado, o arcaico senhoriato empresarial-político brasileiro empenhou-se em fabricar uma caricatura dos mais pobres como um bando de desclassificados indolentes, reprodutores irresponsáveis de criaturas que não sabem como alimentar e educar, e que, por isso mesmo, não merecem viver na mesma cidade que eles; de outro, porque boa parte dos que têm poder de agir na esfera pública e criticam essa concepção indigna do povo brasileiro demitiu-se, por cansaço ou decepção, da tarefa de formar uma elite comprometida com um projeto de nação. Elite, como bem disse a ministra Marina Silva, não é sinônimo de oligarquia vampiresca. Elite são os melhores; os que pensam e agem com a consciência da responsabilidade pública que têm, em função do poder social e da autoridade moral que souberam conquistar no legítimo exercício de seus talentos e competências.

Encontramos, neste ponto, o segundo exemplo, que nos foi dado a ver pelo cineasta João Jardim, em seu belo documentário Pro dia nascer feliz. O filme trata da escolarização de adolescentes brasileiros de pequenas cidades rurais do Nordeste, da periferia das grandes cidades do Sudeste e da alta classe média paulistana. O resultado é impactante. Como seria previsível, presenciamos a trajetória de garotos que terminaram cometendo crimes e foram parar nos aviltantes centros de detenção de menores. O mais importante, contudo, é a surpresa de testemunhar o vigor do desejo de auto-realização e de justiça que anima tantos jovens brasileiros que ainda não sucumbiram á lavagem cerebral do “este país não presta”. Da humilde garota pernambucana que supera obstáculos gigantescos para concretizar suas aspirações literárias ao depoimento de duas garotas da escola paulistana, o que vemos é o desenho humano do que deveria ser uma verdadeira elite. O caso das garotas privilegiadas, em especial, é ainda mais eloqüente, pois contraria em tudo o clichê de alienação e insensibilidade colado aos jovens desse grupo social. Em uma cena, duas dessas garotas conversam, e, ao se referirem à injustiça social que lhes deu tudo, privando a maioria de quase tudo, uma delas diz: “São dois mundos separados”. Ao que a outra, com uma acuidade intelectual cirúrgica, responde: “O pior é que não são dois mundos, é um mundo só”.

Eis uma das chaves da saída: um só mundo, um só povo. Com essa simples consciência, esses brasileirinhos decentes e encantadores mostram que possuem o senso de pertencimento a uma mesma comunidade de tradições, e, portanto, são capazes de reconhecer o direito dos demais ao mesmo respeito e oportunidade que lhes foram dados. No mundo deles - se permitirmos - mortes de inocentes como João Hélio serão lembradas, apenas, como dias de sombras que antecedem os dias de luz. No mundo deles - se permitirmos - a referência do pronome “nós”, na sensível expressão de Rorty, será estendida a todos os brasileiros e a todos aqueles que elegerem nosso país como um bom lugar para se viver. Sonho de bobo alegre, dirão os cínicos. Talvez. Mas - plagiando a rústica Macabéia de Clarice Lispector -, sem esse sonho, viver serve pra quê?

Jurandir Freire Costa

O Estado de S. Paulo, 1.4.2007

sábado, 11 de abril de 2009

Carta de Repúdio de Rafael do 2 ano ___ Leiam, vale e muito

Jornal “NACIONAL”?

Caros jornalistas brasileiros



Toca-se a vinheta tão famosa nas noites de segunda a sábado. Todos reunidos no sofá esperando a hora da novela. Eis que surge ele, o respeitado Jornal Nacional... “Boa noite” é o que ouvimos. Aqueles mesmos âncoras de sempre, aquele mesmo fundo “alucinante” de bastidores jornalísticos, mais uma maratona de informações, tragédias, alegrias, tristezas, novidades, agonias e... Indiferença. Isso mesmo, não há nada pior que a cara apática do jornalista William Bonner logo depois de uma reportagem trágica e agonizantemente inacreditável.

Em casa, os telespectadores riem ou choram, ou riem e choram, ou nem riem e nem choram. Mas o que interessa é que logo à frente deles, por trás daquelas imagens se esconde um “ser” desconhecido pela maioria da população, o SISTEMA, o grande manipulador de mentes. Nas meras palavras e frases usadas pelos apresentadores, ou nas coloridas e representativas imagens expostas se escondem uma série de mandamentos (do tipo: “faça isso e seja aceito pela sociedade”, “vote nele e tenha uma consciência limpa”, “seja comum e não nos dê trabalho” ou ainda “por culpa dele o Brasil está nessa situação”) impostos pelo SISTEMA, nesse caso um sistema específico, o televisivo, em termos de Brasil, a Rede Globo de Televisão.

Tomando um caso particular como ponto de discussão, posso citar discurso pejorativo que o jornal vem produzindo sobre o governo Lula desde o início de seu mandato. Não se passa um dia, sem que seja citada ao menos uma queda na produção industrial ou mais uma corrupção habitual nos bastidores governamentais. Ela (Rede Globo), grande exemplo da elite brasileira, não admite que um presidente sem “ensino superior” seja digno de existência, ainda mais com tão grande apoio popular e até mesmo “aceitação” no mundo afora (vide Obama e suas declarações, vide a forma como o presidente é respeitado nas mais diversas câmaras de comércio e discussão). O bom mesmo é ver a cara de nada misturada com arrogância dos apresentadores, quando estes são obrigados a darem uma notícia positiva em relação ao governo, que mesmo com tantos problemas existentes, o que é inegável, passa por um visível processo de desenvolvimento socioeconômico.

Com uma palavra só se define a tradução do grande Jornal Nacional: Sensacionalismo. É inquestionável o poder de persuasão desse meio de comunicação para com as massas que chegam de seus trabalhos dispostas a se sentirem civilizadas e informadas, enfim, atualizadas com o que está acontecendo. Sabendo desse grande poder e sabendo também aproveitar como ninguém essa oportunidade, ele se sente no total direito de subestimar a capacidade dos brasileiros de pensar e agir em relação a determinados assuntos. Na verdade, esse é o grande problema do brasileiro. Ver que algo está errado e se conformar e aceitar a situação. Saber que o que está errado pode ser mudado, mas deixar-se levar pelo comodismo oferecido.

É preciso lembrar, no entanto, que todos esses comentários feitos não se resumem ao Jornal Nacional. Muito pelo contrário, o que não falta no país é uma vasta rede de meios midiáticos sensacionalistas que tentam impor suas opiniões nas mentes tupiniquins. Aliás, isso não é um “privilégio” brasileiro, o mundo todo está sujeito a isso. Mas se tratando de Brasil, esse é o exemplo mais propício e disseminado nos quatro cantos da nação, logo o que melhor se encaixa na situação vergonhosa de poder exercido pela minoria sobre a maioria (muito freqüente por aqui). Até mesmo por se tratar como já foi dito de um jornal da Rede Globo, a grande chefe da mídia nacional.

Pois eis que as notícias encerram, os âncoras se despedem com o tradicional “Boa noite” e o mesmo sorriso armado de sempre, a vinheta toca, os créditos sobem com o ritmo frenético dos bastidores se dissipando lentamente, de repente a tela escurece e o silêncio toma conta do ambiente...Enfim, seria bom que as Universidade de Jornalismo ensinasse algo menos parcial... Mas, atenção, silêncio: vai começar a novela!




Rafael Cerqueira

Licitação ______ Pato Fu

Quando essa "joça" ficar pronta
Quero ver quem dá conta
De contar como se conta o dinheirão que vai pro saco
Fazer pirâmide. jardim, não é problema
Bota o nome do Ayrton Senna
Põe na entrada do buraco (põe na entrada do buracoooo)

Vamos errar português
Vamos eleger um "bundão"
Vamos votar em quem roubou, mas fez
Pena de morte para os linchadores, ou não?

Já que a polícia não faz nada, no menino da calçada de dia dou moedinha, de noite eu dou porrada

Vamos inventar uma nova dancinha
Sucatear o samba e maltratar o carnaval
Vamos dar um jeito de arrumar a vida
Então: vamos morrer de uma vez, tá legal?

Coliseu penelaqui !

A ESTUPIDEZ QUE NOS ENVENENA E ENVENENA O MUNDO QUE NOS CERCA

A ESTUPIDEZ QUE NOS ENVENENA E ENVENENA O MUNDO QUE NOS CERCA

Rubem Fonseca
Há quem ache que todo preconceito é uma forma de superstição, uma crença irracional, porém convicta. Este é o problema do preconceituoso: a convicção. Como afirma Nietzsche, "As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."

Vejamos o racismo, a convicção de que existe uma raça superior a outra. O racismo se entrelaça em certos momentos com a xenofobia, que é a aversão, o temor e a rejeição de pessoas estranhas.

"Normalmente esse estranhamento, esse sentimento de aflição e ansiedade perante alguém "diferente", se manifesta devido à dessemelhança de idioma, de religião, de "raça", ou de "aspecto físico."

Esse "aspecto físico" é o fundamento do racismo. Quando o conde Gobineau publicou o seu famoso e infame Essai sur l'inégalité des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas) em meados do século 19, a sua tese, de grande aceitação, contribuiu para criar o que podemos chamar de "ideologia racista". No final daquele mesmo século foi publicado, na Alemanha , "Die Grundlagen des neunzehnten Jahrhunderts" (Os fundamentos do século XIX), reforçando o mito da raça ariana e identificando-a com o povo alemão.

Nessa época surgiram na Rússia czarista os primeiros pogroms (termo russo que passou a ser adotado internacionamente), significando a violência dirigida contra uma comunidade étnica ou religiosa, classe ou minoria, geralmente com o consentimento, e até mesmo a aprovação, das autoridades. Os judeus eram o principal alvo dessa agressão, quase sempre acompanhada de depredações, saques e mesmo assassinatos. Isso causou a emigração em massa de judeus russos para o resto do mundo, em especial para os Estados Unidos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas, liderados por Adolf Hitler, desenvolveram um plano de genocídio contra a população judia, da Alemanha e de todos os países que eles invadiram e conquistaram, conhecido como Endlösung der Judenfrage (Solução Final da Questão Judaica), primeiramente forçando os judeus a viverem em guetos, depois detendo-os em campos de concentração e afinal exterminando-os de várias maneiras, sendo as câmaras de gás as mais comuns. Milhões foram chacinados.
Ainda sobre preconceito racial, devemos destacar o apartheid, uma forma de segregação racial que vigorou durante anos na África do Sul.

Entreouvi numa conversa sobre as eleições americanas, em que se discutia as preferências entre Hilary Clinton e Barack Obama, um dos circunstantes dizer: "Entre o negão e a bruaca eu preferia votar no negão." (Bruaca, como todos sabem, significa mulher ordinária ou desmazelada; meretriz) . Essa pessoa que fez o comentário era racista – "negão"? Metade da família de Obama é branca, porque não "brancão"? – e também era misógino, mas a misoginia nele era mais forte: antes o negão do que a bruaca. (No Brasil as pessoas miscigenadas das raças branca e negra são chamadas de mulatas, e não sofrem as discriminações que os negros ainda suportam. Quando ocupava a presidência Fernando Henrique Cardoso disse certa ocasião, com muito orgulho, que "era mulatinho.")

Não devemos confundir misoginia com machismo. O machista está convicto da inferioridade da mulher. O misógino odeia a mulher. A misoginia é mais comum do que se pensa. Nietzsche era misógino. Outro filósofo misógino foi Schopenhauer. É dele essa frase : "Casar-se significa duplicar as suas obrigações e reduzir os seus direitos pela metade."

Já a xenofobia tem um componente de medo muito acentuado. Ela é confundida com o preconceito, mas a aversão que o xenófobo sente pelo homossexual, por exemplo, é diferente daquela do preconceituoso. O preconceituoso não tem medo da "bicha louca", da "sapata" ou da "traveca." O xenófobo, porém, é afetado por uma espécie de perturbação, como se estivesse na presença de alguma coisa ameaçadora, perigosa; ele sente apreensão e temor.

A xenofobia é uma doença, como todas as fobias ou medos mórbidos. No entanto é muito mais comum do que se pensa e vemos manifestações desse distúrbio em todas as sociedades do mundo.

Para finalizar, acredito que as pessoas dignas e de caráter devem lutar contra todo tipo de discriminação, até mesmo contra aqueles preconceitos que abrigam dentro de si de maneira inconsciente. Todos temos de contribuir de alguma forma para acabar ou minimizar essa estupidez que nos envenena e envenena o mundo que nos cerca.

Mãos à obra, meus amigos e amigas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Daniel Pennac escreveu:::::

Direitos Imprescritíveis do Leitor

I - O direito de não ler.
II - O direito de pular páginas.
III - O direito de não terminar um livro.
IV - O direito de reler.
V - O direito de ler qualquer coisa.
VI - O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).
VII - O direito de ler em qualquer lugar.
VIII - O direito de ler uma frase aqui outra ali.
IX - O direito de ler em voz alta.
X - O direito de calar


Refleita sobre...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

SUPERINTERESSANTE

A revista SuperInteressante disponibilizou um sítio eletrônico com suas edicões num período de 20 anos.

Vale conhecer.

http://super.abril.com.br/superarquivo/index_superarquivo.shtml

Abraços

Alexandre

CORREÇÃO DAS REDAÇÕES

Ocorrerá conforme o barema abaixo a correção das redações produzidas por nossos educandos e nossas educandas:

Competências avaliadas

CompetênciaNota
1.Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita.2.0
2.Compreender a proposta da redação e aplicar conceito das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.2.0
3.Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.2.0
4.Demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para a construção da argumentação.2.0
5.Elaborar a proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.2.0
Total 10.0



Bjos

Alexandre

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Nova Ortografia - Agora, quem nasce no Acre é "acriano", com "i"


Por Thaís Nicoleti

Quem nasce em Cabo Verde é cabo-verdiano; quem nasce no arquipélago dos Açores é açoriano. Observe a terminação da palavra, o sufixo "-iano". Segundo a convenção ortográfica anterior, quem nascia no Estado do Acre, no Brasil, era acreano e quem nascia na cidade de Torres, no Estado do Rio Grande do Sul, era torreense. Os sufixos, nesses casos, eram "-eano" e "-eense".

O Novo Acordo vem uniformizar todas essas grafias, recomendando o emprego das formas "-iano" e "iense", já comuns em muitos termos. Assim, "acreano" cede lugar a "acriano", esta a única grafia correta agora. O mesmo vale para quem é natural de Torres, que agora passa a "torriense", com "i".
Convém lembrar que os naturais da Guiné-Bissau, país africano de língua portuguesa, continuam sendo "guineenses". Do mesmo modo, os habitantes da Guiné continuam sendo "guineanos". Isso ocorre porque o nome "Guiné" termina com "e" tônico (veja-se o acento). A substituição do "e" pelo "i" dá-se somente quando o nome de origem termina em "e" átono (como "Acre").

O que é relativo ao antigo Daomé, hoje Benim, também um país da África, é "daomeano" (a terminação em "e" tônico o não permite a sufixação em "-iano" ou "-iense").

Nova Ortografia - Acento do ditongo aberto é eliminado somente nas paroxítonas


Por Thaís Nicoleti

Usando uma expressão empregada pelo gramático Evanildo Bechara, a língua portuguesa acaba de receber uma nova "vestimenta gráfica", uniformizando-se em todos os países em que é o idioma oficial.

Uma das alterações que nós, brasileiros, vamos sentir bastante é a supressão do acento agudo nos ditongos abertos em sílaba tônica. Em nosso país, a pronúncia de termos como "heróico", "paranóico", "idéia" ou "assembléia" é marcadamente aberta, diferente, portanto, da pronúncia de termos como "arroio", "joio", "aldeia" ou "sereia".

De acordo com o novo sistema ortográfico, são eliminados os acentos dos ditongos abertos tônicos que se encontram na penúltima sílaba das palavras, ou seja, o acento desaparece apenas nas paroxítonas. Passamos, portanto, a escrever "heroico", "paranoico", "ideia" e "assembleia", todas sem acento.

Palavras oxítonas ("chapéu", "solidéu", "herói", "caubói", "corrói" etc.), bem como os monossílabos tônicos ("céu", "réu", "rói", "mói", "dói" etc.), terão os acentos preservados. É importante observar essa circunstância e ficar atento a seus desdobramentos: por exemplo, não há mais distinção gráfica entre o substantivo "apoio" (pronúncia fechada) e a forma verbal "apoio" ("eu apoio"), de pronúncia aberta no Brasil.

Os topônimos (nomes de lugares) também sofrem alteração. Escreveremos, portanto, Coreia, Jureia, Boraceia, Cananeia, Pompeia etc. "Ilhéus", entretanto, mantém o acento por ser oxítona. Com o tempo, virá o hábito.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Muro para conter favela no Rio de Janeiro

http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/assistir.jhtm?media=muro-para-conter-favela-gera-polemica-no-rio-0402356EDCA99326

Seria cômico se não fosse verdade...

Mais uma obra criando "fronteiras".

Alexandre Fernandes

quinta-feira, 2 de abril de 2009

"Caso de Pernambuco traz reflexão necessária sobre o aborto no país: até quando continuaremos com uma lei penal que impede o exercício da autonomia se

Ipas Brasil Março 2009 - Beatriz Galli, Carolina Nogueira e Ana Paula Schiamarella



Ao longo das duas primeiras semanas de março foi noticiado pela imprensa e discutido pela sociedade o caso de uma menina de nove anos que era abusada pelo padrasto e ficou grávida de gêmeos, recorrendo ao aborto legal, previsto por lei e orientado pela Norma Técnica do Ministério da Saúde.

A legislação brasileira permite o aborto em apenas duas situações: risco de vida materna e gravidez decorrente de violência sexual.

O caso dessa menina se encaixa em ambos, como confirma o médico da maternidade em que ela foi atendida: “Uma menina de nove anos de idade, pesando 36 quilos e com 1,33 metros de altura, não tem seus órgãos totalmente formados e a gravidez trazia risco de vida”[1]. Em relação ao estupro, o padrasto confirmou que abusava sexualmente dela desde os seis anos de idade e abusava também de sua irmã, deficiente física e mental.

Em razão da previsão legal, presente no artigo 128 do Código Penal, o acesso da mulher à assistência médica para realização deste procedimento constitui um direito, sendo necessário para seu exercício apenas o consentimento da mulher para realização da interrupção da gravidez. Nos casos em que a gestante é menor de 18 anos de idade, é necessária a autorização de seu representante legal para a realização do procedimento.


O mais importante para realização do aborto legal nos casos de estupro é que seja dada credibilidade à palavra da mulher, não sendo necessária a apresentação de nenhum outro documento ou mesmo o boletim de ocorrência policial para que o aborto seja realizado.

Além disso, a Norma Técnica do Ministério da Saúde (2005) orienta os profissionais de saúde a lidarem, sob a ótica da humanização, com a prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes, e dispensa a exigência da apresentação do boletim de ocorrência pelas vítimas de estupro para a realização do aborto legal nas unidades de atendimento.

Desta forma, a decisão de fazer o aborto e o atendimento prestado pelos profissionais de saúde encontram respaldo no Código Penal brasileiro e na Norma Técnica do Ministério da Saúde. Isso porque nosso Estado é democrático e laico, e as políticas de saúde são para todos e todas as cidadãs no território nacional, independente de posições religiosas.

O caso da garota de 9 anos de Recife é emblemático porque houve êxito , ou seja, ela conseguiu ao final exercer o direito previsto em lei.

Infelizmente, essa não é a realidade no Brasil. As mulheres, adolescentes e meninas vítimas de violência encontram dificuldades para ter acesso ao aborto previsto em lei, entre outras coisas, porque não existe serviço disponível no local em que moram ou, quando existe serviço de saúde que atende vítimas de violência, os profissionais de saúde se recusam a realizar o procedimento por motivos de foro íntimo ou religião, descumprindo, assim, com o seu dever ético-profissional.

Dessa forma, muitas vítimas de violência sexual ainda não têm acesso ao aborto legal, estando impedidas de exercer o seu direito previsto em lei.

Essa realidade tem correlação direta com as altas estimativas de aborto inseguro, realizado em situações precárias que se traduzem em grave problema de saúde pública. Estimativas apontam a ocorrência de 1 milhão de abortos ao ano no país. Em geral, as mulheres recorrem a meios que colocam a sua vida em risco e passam por diversos problemas decorrentes de abortos mal feitos.

No Brasil, a interrupção da gravidez ainda tem sido vista como um problema de polícia devido à nossa legislação penal de 1940 e não como uma questão de saúde pública. É urgente uma reflexão sobre a necessidade de mudar a legislação vigente em relação ao aborto, compatível com a realidade e as necessidades das mulheres.

[1] GUANDELINE, Leonardo. Menina de 9 anos estuprada por padrasto aborta. O Globo, 5/3/2009