sábado, 11 de abril de 2009

A ESTUPIDEZ QUE NOS ENVENENA E ENVENENA O MUNDO QUE NOS CERCA

A ESTUPIDEZ QUE NOS ENVENENA E ENVENENA O MUNDO QUE NOS CERCA

Rubem Fonseca
Há quem ache que todo preconceito é uma forma de superstição, uma crença irracional, porém convicta. Este é o problema do preconceituoso: a convicção. Como afirma Nietzsche, "As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."

Vejamos o racismo, a convicção de que existe uma raça superior a outra. O racismo se entrelaça em certos momentos com a xenofobia, que é a aversão, o temor e a rejeição de pessoas estranhas.

"Normalmente esse estranhamento, esse sentimento de aflição e ansiedade perante alguém "diferente", se manifesta devido à dessemelhança de idioma, de religião, de "raça", ou de "aspecto físico."

Esse "aspecto físico" é o fundamento do racismo. Quando o conde Gobineau publicou o seu famoso e infame Essai sur l'inégalité des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas) em meados do século 19, a sua tese, de grande aceitação, contribuiu para criar o que podemos chamar de "ideologia racista". No final daquele mesmo século foi publicado, na Alemanha , "Die Grundlagen des neunzehnten Jahrhunderts" (Os fundamentos do século XIX), reforçando o mito da raça ariana e identificando-a com o povo alemão.

Nessa época surgiram na Rússia czarista os primeiros pogroms (termo russo que passou a ser adotado internacionamente), significando a violência dirigida contra uma comunidade étnica ou religiosa, classe ou minoria, geralmente com o consentimento, e até mesmo a aprovação, das autoridades. Os judeus eram o principal alvo dessa agressão, quase sempre acompanhada de depredações, saques e mesmo assassinatos. Isso causou a emigração em massa de judeus russos para o resto do mundo, em especial para os Estados Unidos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas, liderados por Adolf Hitler, desenvolveram um plano de genocídio contra a população judia, da Alemanha e de todos os países que eles invadiram e conquistaram, conhecido como Endlösung der Judenfrage (Solução Final da Questão Judaica), primeiramente forçando os judeus a viverem em guetos, depois detendo-os em campos de concentração e afinal exterminando-os de várias maneiras, sendo as câmaras de gás as mais comuns. Milhões foram chacinados.
Ainda sobre preconceito racial, devemos destacar o apartheid, uma forma de segregação racial que vigorou durante anos na África do Sul.

Entreouvi numa conversa sobre as eleições americanas, em que se discutia as preferências entre Hilary Clinton e Barack Obama, um dos circunstantes dizer: "Entre o negão e a bruaca eu preferia votar no negão." (Bruaca, como todos sabem, significa mulher ordinária ou desmazelada; meretriz) . Essa pessoa que fez o comentário era racista – "negão"? Metade da família de Obama é branca, porque não "brancão"? – e também era misógino, mas a misoginia nele era mais forte: antes o negão do que a bruaca. (No Brasil as pessoas miscigenadas das raças branca e negra são chamadas de mulatas, e não sofrem as discriminações que os negros ainda suportam. Quando ocupava a presidência Fernando Henrique Cardoso disse certa ocasião, com muito orgulho, que "era mulatinho.")

Não devemos confundir misoginia com machismo. O machista está convicto da inferioridade da mulher. O misógino odeia a mulher. A misoginia é mais comum do que se pensa. Nietzsche era misógino. Outro filósofo misógino foi Schopenhauer. É dele essa frase : "Casar-se significa duplicar as suas obrigações e reduzir os seus direitos pela metade."

Já a xenofobia tem um componente de medo muito acentuado. Ela é confundida com o preconceito, mas a aversão que o xenófobo sente pelo homossexual, por exemplo, é diferente daquela do preconceituoso. O preconceituoso não tem medo da "bicha louca", da "sapata" ou da "traveca." O xenófobo, porém, é afetado por uma espécie de perturbação, como se estivesse na presença de alguma coisa ameaçadora, perigosa; ele sente apreensão e temor.

A xenofobia é uma doença, como todas as fobias ou medos mórbidos. No entanto é muito mais comum do que se pensa e vemos manifestações desse distúrbio em todas as sociedades do mundo.

Para finalizar, acredito que as pessoas dignas e de caráter devem lutar contra todo tipo de discriminação, até mesmo contra aqueles preconceitos que abrigam dentro de si de maneira inconsciente. Todos temos de contribuir de alguma forma para acabar ou minimizar essa estupidez que nos envenena e envenena o mundo que nos cerca.

Mãos à obra, meus amigos e amigas.

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