domingo, 29 de março de 2009

EBOLIÇÃO DA ESCRAVATURA _ Luís Carlos de Oliviera

A área de serviço é senzala moderna,

Tem preta eclética, que sabe ler “start”;

“Playground” era o terreiro a varrer.

Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,

Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha;

Não entra no novo quilombo da favela.

Capitão-do-mato virou cabo de polícia,

Seu cavalo tem giroflex (radiopatrulha).

“Os ferros”, inoxidáveis algemas.

Ração poder ser o salário-mímino,

Alforria só com a aposenadoria

(Lei dos sexagenários).

“Sinhô” hoje é empresário,

A casa-grande verticalizou-se.

O pilão está computadorizado.

Na última página são “flagrados” (foto digital)

Em cuecas, segurando a bolsa e a automática:

Matinal pelourinho.

A princesa Áurea canta,

Pastoreia suas flores.

O rei faz viaduto com seu codinome.

— Quantos negros? Quanto furor?

Tantos tambores... tantas cores...

O que comparar com cada batida no tambor?

sábado, 28 de março de 2009

SENHOR DEUS, LIVRA-ME DO CAPIM

No curso de medicina, o professor se dirige ao aluno e pergunta:
- Quantos rins nós temos?
- Quatro! - responde o aluno.
- Quatro? - replica o professor, arrogante, daqueles que sentem prazer em tripudiar sobre os erros dos alunos.
- Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala -
ordena o professor ao seu auxiciliar.
- E para mim um cafezinho! - replicou o aluno ao auxiliar
do mestre.
- O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala. O aluno era,entretanto, o humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais conhecido como 'Barão de Itararé'.
Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
- O senhor me perguntou quantos rins 'nós temos'.
- ' Nós temos' quatro: dois meus e dois teus.
Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim.

MORAL: A vida exige muito mais compreensão do que conhecimento!
Às vezes, as pessoas, por terem um pouco mais de conhecimento ou acreditarem
que o tem, se acham no direito de subestimar os outros....
E haja capim!!!!!!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Milagres Do Povo (Caetano Veloso)

Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar Obatalá guia
Mamãe Oxum chora lagrimalegria
Pétalas de Iemanjá Iansã-Oiá ia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia

Obá
É no xaréu que brilha a prata luz do céu
E o povo negro entendeu que o grande vencedor
Se ergue além da dor
Tudo chegou sobrevivente num navio
Quem descobriu o Brasil?
Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia




Queridos percebam a riqueza linguística e cultural dessa música. Beijão.
Alex

terça-feira, 24 de março de 2009

atenção: TALVEZ AGORA ACREDITEM EM MIM

Candidato mandou recado a corretor em redação da Fuvest 2009



http://vestibular.uol.com.br/ultnot/2009/03/24/ult798u24718.jhtm

domingo, 22 de março de 2009

SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZAÇÃO DO POVO NO BRASIL

Frei Davi

Conhecem? Esta na net. Gostaria que vocês lessem.

É só colocar o título no oráculo eletrônico: google.

Abraços

Alexandre

Quadro Negro _ Já ouviram _ É de um grupo de SSA

QUADRO NEGRO

Rap´ortagem



Acordei de um longo sono, a intensa luz quase me cega
É preciso revelar o que se nega
Se a vida é uma escola toda escola tem seu quadro
Quadro negro, formato quadrado
Nele reescrevo a minha história, faço um diário
Na minha lista negra só tem revolucionário
Marias guerreiras das periferias você tem que ver
Os guerreiros do passado e os atuais do MST
Os homossexuais que resistem com dignidade
Crioulos e indígenas que adentram as faculdades
Se o escuro é feio minha poesia é imunda
Das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda
E por falar em água, me vem na lembrança
O quadro negro na verdade tem a cor da esperança
Que caia um temporal sem pedir licença
E faça desabar essas velhas crenças
Visões estúpidas, espalhadas pelo mundo
Que associou a cor preta a tudo que é imundo
O negro discrimina o próprio negro sim
Se aquele que apontas como negro não se acha assim
Cresceu aprendendo que ser negro é feio
Se é tudo de ruim quem é que quer andar no meio?
Quem escreveu a história do negro nesse país?
Basta ver a cor do giz
Os Reis Faraós do Egito hoje mumificados
Se tirassem suas faixas pudessem ser ressuscitados
Saberia dizer a cor da pele deles sem engano?
Quer uma pista: Egito é um país africano
Não adianta sabermos que não existe raça
Se o conceito predomina e representa ameaça
O hip-hop não nega a mestiçagem, porém
Sabe que ela não trouxe igualdade pra ninguém
Tá vendo o que a herança racista ofereceu?
Se existia escravidão entre africanos antes dos europeus
Era com sentido diferente do que se viu
Não eram vendidos, não tinha caráter mercantil
As tribos guerreavam o grupo perdedor assume
Rendição por questão de honra, de costume
Se há uma cor do pecado ela chegou de mansinho
Espalhando discórdia e ambição pelo caminho
Sua ciência e religião assim disseram com toda calma
É inferior! Pode escravizar que não tem alma
A cor da paz cometeu holocausto aos judeus
Barbárie na inquisição em nome de Deus
Nas Américas, índios foram dizimados
Mas quem sobreviveu está criando um novo quadro

Se na prova der branco na memória
Vamos denegrir a sua mente com a nossa história
A luz do sol ofusca a visão
E a beleza da lua só é possível com a escuridão

A luta pelas cotas não anula a luta pela melhora
Da qualidade de ensino público, tu ignora
Pelo contrário, quanto mais negros na academia
Muito mais força pra se lutar por um novo dia
Racismo, o que mais me causa espanto
Não se encara como problema do branco
Mas entre esses, há os que lutam pelo seu fim
“ah se todo branco fosse assim”
Branquitude, pouco se ouve falar
O que explica o privilégio que sua etnia pode conquistar?
Pra quem nasceu em berço de ouro é difícil entender
Que não é só porque seus pais fizeram por merecer
Foram anos de exploração no passado pra que um dia
A sociedade fosse estruturada a favor de uma minoria
Há os que não admitem cotas julgando serem injustas
Outros julgando serem esmolas, tudo isso me assusta
Pergunto quanto custa superar o engano?
Quanto custa ignorar os direitos humanos?
Muita coisa bonita garante a Constituição
Se esquecida ou ignorada precisa de afirmação
Pretos e brancos são iguais, e daí? Se a norma
Nem no cemitério são tratados da mesma forma
Entenda agora o que são ações afirmativas
Medidas pontuais, alternativas
Medidas passageiras que vem afirmar
Pra sociedade, que há, desigualdades, a reparar
Dos que vivem abaixo da linha da pobreza
70% são negros, que beleza!
Do total de universitários brasileiros
97% são brancos e herdeiros
De uma política que patrocinou para embranquecer a raça
A vinda de 4 milhões de estrangeiros, o tempo passa!
Tudo isso, em 30 anos irmão
Foi o que se trouxe de negros, em 3 séculos de escravidão
Patrocínio com recurso público, o negativo
Para os escravos libertos nenhum tipo de incentivo
Nos mataram, exploraram e depois largaram a toa
Sem emprego, casa, comida, só disseram: vai, voa!
Sem asas e quem sobreviveu tá por um triz
Amontoados nas favelas de todo país
Quantos brancos moram lá? Cê conta no dedos
Agora entenda porque cotas para negros

Refrão

Eu quero bonecas, anjos, apresentadores pretos e pretas
Empresários, juízes, modelos, doutores pretos e pretas
Se querer é uma faceta
Eu quero, desejo, uma elite preta

Uma coisa é pedir outra é conquistar respeito
O fruto de uma conquista dá-se o nome de direito
Olhe pra minha cor, olhe pra nossa luta
Nem esmola nem favor se desigual é a disputa
Entre quem sempre teve privilégio de estudar
Com ensino de qualidade em escola particular
E querer comparar com ensino público e a situação
Tele-aula, aceleração
Vestibular pra faculdade pública o esquema é raro
Com cotas ou não só entra quem tem preparo
Não serão as cotas que terão o privilégio de inaugurar
A presenças de alunos educados pra manguear
Vestibular das particulares tomou a frente, foi mais ligeiro
Freqüentemente só basta ter dinheiro
Quem concorrer pelas cotas vai se deparar legal
Com uma concorrência enorme mas não desleal
Desleal é a condição que o jovem negro encara
Fusca para ele, Ferrari para os de pele clara
Competirem com as mesmas regras, maldade
É isso que eles chamam de igualdade
Engraçada essa gente da estética
Ter instrução em excesso nunca foi sinal de ética
Será mesmo a suposta elevação intelectual
Que garantirá a formação, de um bom profissional?
Não subestime a inteligência dos excluído desse milênio
A faculdade do crime só tem gênio
A elite é quem decide em âmbito nacional
Se nossa inteligência será usada para o bem ou para o mal
Tanto tempo buscando debate ninguém se importou
A cota de tolerância do meu povo já se esgotou
A Simples Rap´ortagem revela para o Brasil
Com cotas ou não vestibular é funil
Com cotas ou não vestibular é peneira
Quem concorrer pelas cotas mas não for bom vai levar rasteira
Que vença o melhor...chega a ser hilário
A prova é uma só os concorrentes que são vários
Quem se afirmou, como provar se é negro ou não?
De uma vez por toda pra se resolver a questão
O cassetete da PM tem dispositivo de elite
Nunca erra quem é negro, acredite!

Refrão

Cuidado quando alguém te incita
A ir a um show onde só tem gente bonita
Olhe sempre com reservas, pra mim o que interessa
É saber que gente bonita é essa
Analise os termos que deixaram pra gente
Entre pardo e mulato qual o mais indecente?
Qual o menos prejudicial?
Ter a identidade de mula ou de pardal
Mas pêra aê, veja que pirraça
Pardal não é aquele passarinho que não tem raça?
Que perambula pelas praças, dizem sem valor
Pássaro sem vocação pra cantor
Vira-lata, a mula é um animal
Mão de obra barata, estéril, irracional
Só serve para o trabalho mas não para produzir
E aí cumpade, tu se encaixa mesmo aqui?
Nem parda, nem mulata eu me defino politicamente
Sou negra, ou se quiser afro-descendente
Cuidado, que eu tô em pele de cordeiro
Do tipo que da coice, afro-brasileiro
Deveria ser executado com um tiro de bazuca
O criador do personagem “negra maluca”
Eu sou sério demais? Não vá se preocupar
Herdei da minha gente o talento pra contrariar
Contrariando, tu vai sim me ver sorrindo
Mas o hip-hop superou o discurso do “negro é lindo!”
A quem interessa? Eu digo a quem pensou
Que eu seria só mais um com vocação pra tambor
Se respeito é bom, não nos leve a mal
Quem vos fala é um skatista, uma pedagoga e cientista social
Da Universidade Federal da Bahia
Detalhe, quem diria, na terra do “é só alegria!”
Se denegrir é tornar negro irmão
Vamos denegrir a faculdade de comunicação
De direito e muito mais
Vamos denegrir os órgãos oficiais

Refrão

A manchete da Simples Rap´ortagem estampa
Um novo quadro negro se levanta
Há muito a ser contado sobre os nossos ancestrais
Não deixar passar em branco, tarefa nossa rapaz
Se ligue, há muito a ser feito
O importante nego é fazer do nosso jeito

ARTIGO: Barack Obama e o Brasil


Por Zulu Araújo
Presidente da Fundação Cultural Palmares / Ministério da Cultura

Para além de todo proselitismo que cercou a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, constata-se, de fato, um enorme avanço na percepção da sociedade americana em relação ao combate ao racismo. Para um país que até recentemente praticava a discriminação racial de forma legal, eleger Barack Obama Presidente da República constituiu-se numa significativa revolução política e social.

Mas é preciso olhar esse fato histórico de maneira um pouco mais acurada. Por um lado, o forte simbolismo que representa essa eleição. Maior potência do mundo, os Estados Unidos, além da força militar e econômica, são também influente no campo das idéias. Por isso, essa eleição representa recolocar na agenda política internacional, não apenas o sonho da igualdade racial, mas também o sonho e a esperança a serviço de um mundo multilateral, em que a autonomia e as diferenças entre os povos sejam respeitadas, onde o diálogo e o convencimento sejam as principais ferramentas de negociação entre as nações e não os mísseis, as invasões, as torturas e as guerras. Um mundo em que a Convenção da Proteção da Diversidade e das Expressões Culturais, aprovada pela Unesco, seja um instrumento real do reconhecimento das múltiplas formas de manifestações culturais, de tradições e de saberes dos povos, sem que tenham obrigatoriamente transformar-se em produtos ou mercadorias, como advogou os representantes norte-americanos quando da sua aprovação.

Por outro lado, faz-se necessário destacar que este fato histórico representa o apogeu de uma luta que se iniciou há muito. País com tradição racial segregacionista recheada de intolerâncias e tragédias, os Estados Unidos foram palco de inúmeras lutas e experiências que influenciaram boa parte do mundo no trato da questão racial. Desde a coragem de Rosa Parks, aquela costureira negra, que, no dia 1º de dezembro de 1955, se recusou a ceder o seu lugar no ônibus a um branco, até a eleição de Barack Obama presidente, muita água rolou por baixo desta ponte. Ora de maneira trágica com os linchamentos, assassinatos e agressões perpetradas pela Ku Klux Kan e seus seguidores, ora com a reação de líderes como Martin Luther King e Malcom X e organizações como os Panteras Negras que mobilizaram milhões de pessoas nos Estados Unidos e no mundo contra esta iniqüidade que é o racismo. No meio de todos esses episódios tivemos casos hilariantes, como a decisão da Suprema Corte norte-americana que julgou pela inconstitucionalidade, de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional norte-americano que considerava livres os escravos que fossem desbravar o oeste daquele país, alegando que o Congresso não tinha poderes para banir a escravidão, mesmo em território federal, e que os negros não poderiam ser considerados cidadãos, pois não faziam parte do povo americano.

Esse breve apanhado histórico serve para balizar a discussão decorrente da eleição do primeiro presidente negro da maior potência do mundo e suas conseqüências mais diretas para o Brasil. Serve também para entendermos melhor e cobrarmos mais ainda da elite brasileira, as razões pelas quais a enorme euforia demonstrada com a eleição de Obama, não se manifesta minimamente no apoio à luta dos afro-brasileiros por um tratamento igualitário em nossa sociedade.

O Brasil precisa saber que a eleição de Barack Obama não foi fruto de nenhum milagre, nem muito menos da decisão dos homens de bem que comandam os Estados Unidos, mas sim de um poderoso movimento que ao longo de cinqüenta anos conseguiu sustentar a implementação de ações afirmativas que viabilizaram o acesso de milhões de afro-americanos ao ensino superior, assim como a ocupação de vários postos importantes de direção daquele país, tanto no setor público como no setor privado, a exemplo de Jesse Jackson, Colin Power, Condolezza Rice e tantos outros, independente de suas posições político-ideológicas.

Infelizmente a superação plena das desigualdades raciais no Brasil, país líder da América Latina, ainda é um sonho a ser conquistado e uma das razões do adiamento deste sonho é a resistência recalcitrante de parte da nossa elite econômica, política e intelectual sobre a necessidade do Brasil adotar medidas efetivas de promoção da igualdade no campo racial. Mesmo com metade da população sendo afro-descendente, eleger um presidente negro no Brasil parece um sonho ainda muito distante. Pesquisa recente do jornal Folha de S. Paulo revela isso. Embora apenas 3% dos entrevistados tenham declarado abertamente seu preconceito, para 91%, os brancos têm preconceito de cor em relação ao negro. Apenas por esse dado constata-se o quanto de trabalho temos pela frente para vencer o racismo inercial existente no Brasil. Nem mesmo Deus sendo brasileiro, como muitos afirmam, conseguimos apagar as conseqüências dos 400 anos de escravidão que vivemos. Por isto mesmo, investir nas políticas de ações afirmativas para a promoção da igualdade em nosso país, não é uma opção, é uma obrigação. Mais ainda, não pode resumir-se exclusivamente em cotas para negros na universidade, embora a educação seja um fator fundamental para alterarmos nossa realidade excludente. E, para quem, ainda insiste em considerar privilégio essas ações, vale citar aqui a declaração lapidar do ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa de que as ações afirmativas é "favorável àqueles que historicamente foram marginalizados, de sorte a colocá-los em um nível de competição similar ao daqueles que historicamente se beneficiaram da sua exclusão". Simples, como água.

Esperamos, pois, que a eleição de Barack Obama possa massagear os pontos sensíveis da sociedade brasileira e nos ajudar a revelar um outro Brasil. Um Brasil ungido pelo sentimento de fraternidade e igualdade a fim de produzir uma outra página na nossa história, com liberdade e democracia, e apagar de vez essa estrutura excludente e discriminatória com base na cor da pele, como querem alguns. Quem sabe assim, em breve, produziremos o nosso Obama?

sexta-feira, 20 de março de 2009

Prof. Wesley, uma amigão me mandou esse texto. É interessante... Abraços

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Por profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses.

- Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo. - Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai.. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias?

- Papai, proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando... permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar.... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto pararei.

domingo, 15 de março de 2009

Link para artigo da Veja

Acesse para o texto da VEJA

http://www.google.com.br/search?q=O+que+est%C3%A3o+ensinando+a+ele%3F+Revista+Veja+Monica+Weinberg+e+Camila+Pereira&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a


Título: Você sabe o que estão ensinando a ele?

É o quarto link de cima para baixo.


Abraços e boas leituras críticas, sempre.

NOTA DE REPÚDIO

Fiz mais algumas pesquisas sobre a reportagem da Veja e encontrei esta "Nota de Repúdio" que disponibilizo também.
Abraços
Alexandre




"Mais uma vez, a Revista Veja (Editora Abril) se superou em superficialidade e falta de compromisso com os valores éticos da prática jornalística e da função social da comunicação. Em matéria intitulada: "Você sabe o que estão ensinando a ele?" (Edição Nº 33, de 20 de agosto de 2008), assinada por Monica Weinberg e Camila Pereira, desfere raivoso ataque contra os docentes brasileiros.

Sob aparente pretexto de discutir a educação no Brasil, a publicação conclui de forma simplista e com intenção duvidosa que a baixa qualidade de ensino no País é responsabilidade dos professores que, ao invés de ensinarem o conteúdo de suas disciplinas, dedicam-se ao discurso ideológico dentro das salas de aula.

Agarrado ao pouco que restou de sua credibilidade, especialmente no meio midiático, mas também junto aos leitores mais atentos, o veículo sai em defesa da necessidade de neutralidade e, de maneira irresponsável, conclama os pais a promoverem patrulha ideológica nas escolas, controlando o que é ensinado pelos professores.

A temerosa reportagem insinua ainda que a responsabilidade em relação à qualidade da educação está vinculada apenas à ação individual dos professores, desconsiderando propositalmente o complexo fenômeno educacional, que envolve ações e políticas públicas, condições de trabalho e gestão, questões sociais e culturais.

Por meio desta reportagem, Veja presta um desserviço à sociedade. E diante da oportunidade de realizar um debate sério se revela novamente porta-voz de segmentos conservadores e antidemocráticos que sob a égide da "pseudo" neutralidade apregoam uma educação conservadora e acrítica - distante de preceitos reais de qualidade de educação capazes de oferecer uma formação cidadã e de contribuir para a consolidação democrática da sociedade brasileira.

Declaramos nosso compromisso com a luta pela educação como um direito, bem público e de qualidade a todos, e conclamamos a sociedade brasileira a se solidarizar com que dignamente faz da sua atividade docente instrumento da construção da cidadania e do desenvolvimento nacional".

CONTEE - Confederação Nacional dos trabalhadores em estabelecimentos de ensino
CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

CARTA DE REPÚDIO

Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo
Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos
maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha
mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada
semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas
de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre
sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua
opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas ,
camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar
pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo,
que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais
bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira
vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário
da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os
outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo,
apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente
com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética,
certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada
por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que
é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que,
certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas
pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade
brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável,
elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em
favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais
pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos
conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da
pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido - na qual esta
política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo
que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela.
Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má
apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão
continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata
às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato
humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média
brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta
matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem
humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e
dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo
plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo
insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho,
pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há
de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o
pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país,
independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos
dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a
voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade
brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica
democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a
revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".

Sexta-feira 13. Dia de assombração?

por2415_GilSextaFeiraTreze_gde.jpg Antonio Gil Neto

Que dia é hoje? Está mais para dia de sorte ou de azar?

Olho para fora. Calor dos mais fortes, abafado e sem presságios de chuva. Examino o calendário.Abro um pouco mais a boca de ligeiro susto e constato que este ano está bem armado de sextas-feiras 13: tivemos uma em fevereiro, temos outra agora neste março e teremos ainda outra em novembro. Maus agouros à vista. A bruxa andará bem solta... Será sinal de tempo ruim, enchentes, catástrofes? Ou será prenúncio de agravamento da crise mundial que nos assombra e nos afeta quando vamos utilizar o nosso precioso dinheirinho?

Com três sextas-feiras 13 cravadas nesse ano podemos dizer que não teremos bom ano? Ou isto é tudo é grande lorota?

Neste recolhimento reflexivo sobre este marcador sinistro dos tempos, enquanto olho através da janela a tarde esvaindo-se em pouco vento, revivo alguns rituais, atos quase imperceptíveis, que fazem parte da minha vida comum, jeitos de encará-la ou bem vivê-la. Gato preto cruzando no meu caminho: desvio ou continuo com aquela pulga atrás da orelha, atento ao que possa vir. Deixar guarda-chuva aberto dentro de casa? Nem pensar, isso pode chamar algo indesejável. Não me lembro de ter acontecido algo prejudicial por conta de tê-lo esquecido aberto no espaço do “lar doce lar”, mas o fato é que sempre cuidei para não abri-lo. Com espelho, tomo o maior cuidado para não quebrá-lo. Nas mudanças, cuido bem dele, levo-o ao colo como preciosidade. Fico cutucando em mim como seriam sete anos de azar...

Sobre essa história do gato preto, sei que na Índia, já é uma outra história. Lá seria sinal de sorte. Se fosse um gato branco é que seria de azar. Os sentidos para um mesmo fato variam entre diferentes culturas, mas o papel da superstição tem importância em todas elas.

Enquanto a chuva não vem e o calor vai aumentando, olho melhor para a palavra “superstição”, do latim supertitio, que significa o excesso ou o que sobrevive de épocas passadas. No Aurélio, dentre outros sentidos, trata-se de um sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância e que induz ao conhecimento humano de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes.Viu só?

Todos nós estamos cercados de atitudes supersticiosas. É comum pessoas consultarem, sem compromisso e apenas por curiosidade, o horóscopo do jornal, não é? Fora consultas esporádicas ao tarô, ao I Ching ou a uma infalível cartomante que alguém bem conhece! Me lembrei especialmente da Cris , amiga jornalista, antenadíssima que usa a internet no celular para checar horários de vôos, a previsão do tempo e, é claro , o horóscopo! Ela adora estar plugada e adora igualmente o horóscopo chinês!

Estes pequenos e pungentes rituais nos dão sinais da existência de um inconsciente coletivo, valoroso e firme, guardião do mistério que envolve toda a humanidade acerca de sua origem e seu destino. Até onde pode ir o conhecimento humano? Há no espaço do pensar, sobretudo o científico, algo que escapa para ser desvendado. É o mistério que incentiva e estimula o homem a vislumbrar, descobrir, criar.

Desde os tempos do homem das cavernas ainda repetimos atos espontâneos e quase marotos para decifrar o desconhecido e desvelar o futuro comum, indecifrável e o inesperado. Quem é que nunca entrou na sua nova casa com o pé direito ou não bateu na madeira para isolar o azar? Muitas supertições fazem parte do dia a dia das pessoas. É algo que permanece no gerar das gerações. Que faz parte do viver cotidiano como uma das formas de melhor viver e resolver dificuldades.

Estamos todos situados num parêntese temporal, entre o nascimento e a morte e circunscritos ao mesmo destino, desconhecido e pleno de conjecturas. O que nos coloca num lugar de não-saber que fortalece o medo, mas estimula a imaginação.

Andei coletando por aí alguns desses ditos pequenos rituais: borboleta preta, sinal de morte; colher e garfo caindo, mulher e homem chegando em casa; usar roupa do avesso, chama dinheiro; sentir a orelha quente, alguém falando mal ou bem de você; colocar vassoura virada atrás da porta, a visita irá embora; passar embaixo da escada, traz azar; dormir com os pés para a porta, chama a morte; bater na madeira três vezes, afasta o azar; sentir arrepio, é sinal de que a morte passou por perto; gato preto, dá azar;ferradura presa na porta, sinal de boa sorte; se uma pessoa espirra, desejamos saúde (o espirro é uma idéia antiga de que o espírito mora na cabeça e pode ir embora com o espirro); sal grosso, evita azar, inveja, mau olhado; bolsa no chão , pode diminuir o dinheiro; mão coçando , dinheiro chegando ; se houver um objeto perdido, dar 3 pulinhos para São Longuinho...

Li num almanaque que estas são práticas presentes desde as mais antigas religiões. E você terá outras para enriquecer esta lista aleatória. Com certeza.

Desde pequenos sofremos e nos encantamos com o trovão, o relâmpago, o escuro dentre tantos outros acontecimentos triviais. O mesmo se faz com as histórias tenebrosas de terror. Repare como crianças e adolescentes quase sempre apreciam história de vampiros, assombrações, bruxas e outros personagens sinistros e que moram no além fantasioso. Presumo, nesse meio fantasmagórico que a figura da Morte, além de ser assustadora apresenta algo de curioso e provocador em nossa realidade medrosa e apavorante. Por estes dias comecei a ler um livro que havia escolhido pelo título: A menina que roubava livros. Li algumas páginas e o abandonei. Ao me dar conta de que o narrador do romance era a Morte minha leitura mudou de rumo. Retomei o livro com outro movimento. Não é uma Morte com capa negra, rosto de caveira e foice ensanguentada na mão, bem sexta-feira 13. Ao contrário, é uma figura quase humana que conta sobre o seu trabalho de cuidar do ser humano lá do outro lado do desconhecido. Você não acha isso interessante?

Cá entre nós, por que a sexta-feira e o numeral 13 se configuram em tamanha idéia de infortúnio e dia de assombração aparecer? No guia dos curiosos achei uma boa explicação, embora saiba que há outras bem mais antigas: é sexta-feira, porque foi o dia da crucificação e morte de Jesus Cristo. E é 13, pelo fato de na última ceia estarem 13 pessoas à mesa: Jesus e os 12 apóstolos. Mas, muitas vezes o número 13 é entendido como algo bom, de sorte. Na Índia, na China e no México, por exemplo, é um número religioso muito apreciado.

Acho que as supertições perduram pelo menos em boa parte por satisfazer as nossas necessidades emocionais. Fico pensando que muito do medo e ansiedade, peculiares dos seres humanos são provocados pelo fato de toda a gente morrer. E mais, por poder ser inesperada. Nesse sentido os rituais supersticiosos podem funcionar como algo razoável na obtenção imediata de algo que nos conforte ou nos console.

Há quem diga que um povo cultuador da superstição pode ser facilmente manipulado pelos seus líderes. Será isso o que nos estarrece?

Lá fora, calor e escuridão. Os fantasmas rondam. Enquanto não chega a próxima sexta-feira 13, talvez seja bom consultarmos a nós mesmos para saber até que ponto os assombramentos reavivam o nosso lado lúdico e inventivo e até que ponto ele nos paralisa, nos emburrece. Ainda vale repensar on-line a velha máxima de Hamlet, retomada pela ironia de Machado no seu conto A Cartomante: “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”.

LIMA BARRETO

Não as matem

Lima Barreto

Esse rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração dos homens: o domínio, quand même, sobre a mulher.

O caso não é único. Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha veio a morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.

Um outro, também, pelo carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, que substituiu com montões de pedras o vetusto Convento da Ajuda, alvejou a sua ex-noiva e matou-a.

Todos esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros.

Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer Não sei se se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes não nos arrebatam senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão. O ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.

Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas

De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa vontade, sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como e então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente?

Todas as considerações que se possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não têm sobre as mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser desprezadas.

Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação. O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a eternidade do amor Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento.

Deixem as mulheres amar à vontade.

Não as matem, pelo amor de Deus!

Vida urbana, 27-l-1915

terça-feira, 10 de março de 2009

Cordel dos Excomungados

Cordel dos Excomungados



Miguezim de Princesa - Poeta popular,

paraibano radicado em Brasília.



I

Peço à musa do improviso

Que me dê inspiração,

Ciência e sabedoria,

Inteligência e razão,

Peço que Deus que me proteja

Para falar de uma igreja

Que comete aberração.

II

Pelas fogueiras que arderam

No tempo da Inquisição,

Pelas mulheres queimadas

Sem apelo ou compaixão,

Pensava que o Vaticano

Tinha mudado de plano,

Abolido a excomunhão.

III

Mas o bispo Dom José,

Um homem conservador,

Tratou com impiedade

A vítima de um estuprador,

Massacrada e abusada,

Sofrida e violentada,

Sem futuro e sem amor.

IV

Depois que houve o estupro,

A menina engravidou.

Ela só tem nove anos,

A Justiça autorizou

Que a criança abortasse

Antes que a vida brotasse

Um fruto do desamor.

V

O aborto, já previsto

Na nossa legislação,

Teve o apoio declarado

Do ministro Temporão,

Que é médico bom e zeloso,

E mostrou ser corajoso

Ao enfrentar a questão.

VI

Além de excomungar

O ministro Temporão,

Dom José excomungou

Da menina, sem razão,

A mãe, a vó e a tia

E se brincar puniria

Até a quarta geração.

VII

É esquisito que a igreja,

Que tanto prega o perdão,

Resolva excomungar médicos

Que cumpriram sua missão

E num beco sem saída

Livraram uma pobre vida

Do fel da desilusão.

VIII

Mas o mundo está virado

E cheio de desatinos:

Missa virou presepada,

Tem dança até do pepino,

Padre que usa bermuda,

Deixando mulher buchuda

E bolindo com os meninos.

IX

Milhões morrendo de Aids:

É grande a devastação,

Mas a igreja acha bom

Furunfar sem proteção

E o padre prega na missa

Que camisinha na lingüiça

É uma coisa do Cão.

X

E esta quem me contou

Foi Lima do Camarão:

Dom José excomungou

A equipe de plantão,

A família da menina

E o ministro Temporão,

Mas para o estuprador,

Que por certo perdoou,

O arcebispo reservou

A vaga de sacristão.

domingo, 8 de março de 2009

Menina de 9 anos aborta! Excomunhão é justa?

Excomunhão é um alerta para a sociedade brasileira


A indignação da sociedade brasileira frente à recente excomunhão perpetrada pelo Arcebispo de Recife foi plasmada na fala do Presidente da República sobre o episódio. Lula afirmou que os médicos fizeram o que tinham que fazer, salvando a vida de uma menina de 09 anos, ressaltando que a Medicina tem mais razão que a Igreja.


Merece atenção a resposta do Arcebispo, quando afirma que a lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Numa democracia a lei de Deus não pode estar acima da lei dos homens, pois é dever do Estado garantir a igual liberdade religiosa de todos os cidadãos, respeitadas a diversidade de crenças e visões de mundo, inclusive daqueles que não crêem.



A excomunhão, portanto, serve de alerta para a sociedade brasileira. Se hoje os cidadãos não precisam temer represálias religiosas quando exercem seus direitos, é porque em 1890 foi decretada a separação Estado-igrejas, garantindo-se a inviolabilidade de consciência e de crença. Antes disso, a pena de excomunhão surtia efeitos no mundo jurídico, podendo vitimar os cidadãos com a chancela do Estado-juiz.



Naquele largo período da história brasileira, fundamentalistas religiosos, como o Arcebispo de Recife, tinham muito poder, pois pecar era ilegal.



Está nas mãos do Congresso Nacional preservar a separação Estado-igrejas, rejeitando a Concordata assinada por Lula e Ratzinger em 2008, a qual viola o artigo 19, I, da Constituição Federal, estabelecendo uma aliança com a Igreja Católica, colocando-a acima das demais religiões professadas no Brasil, em detrimento das liberdades individuais





Roberto Arriada Lorea

Juiz de Direito em Porto Alegre

Membro do Conselho Diretor da CCR

Visita importante

Queridos segue link que recebi de Neigila pra gente dar uma olhada.
Tem textos de diversos escritores, inclusive "livros falados".
Bj no coração
Alex


http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/literatura/por_genero

Mais uma vez _ Pérolas _ de RUAN FONTANA

Escravos do tempo

By Ruan Fontana

Sabe aqueles dias que você acorda e não tem nada pra fazer, vai ao banheiro, toma um bom banho, escova os dentes, se veste, senta em frente ao computador e se pergunta: O que eu vou fazer hoje? Isso está acontecendo comigo neste exato momento, não tenho a menor idéia do que fazer neste domingo de Sol. Tenho um longo dia pela frente, afinal não passam das nove da manhã... Longo dia... Me fez lembrar de uma regra natural inexplicável, todos nós presenciamos, mas ninguém sabe explicar. Faz parte daquelas inúmeras perguntas sobre a humanidade que a ciência ainda não conseguiu achar uma resposta... Por que quando não temos nada pra fazer o tempo não passa? E quando estamos atarefados o tempo corre velozmente? Talvez com a intenção cruel de fazer com que nós não consigamos cumprir o que temos que cumprir.

O tempo não para, já dizia o saudoso Cazuza. Todo mundo já ouviu que tudo que é bom, dura pouco... Mas também já ouvimos que o que é bom, dura o tempo necessário para ser inesquecível... Acho tudo isso um consolo para o inexplicável. Uma resposta que inventaram para a não resposta. Quero saber quem foi o infeliz que inventou o relógio, as horas, os minutos, os segundos? Quem foi o inútil que nos prendeu na maior e mais perigosa das prisões, o tempo. Viramos escravos e a cada ano que passa estamos mais aprisionados e envolvidos com ele. Já vivemos em relação a ele, criamos, inovamos, evoluímos, tudo em função dele.

Devemos poupar o tempo, então compre um celular novo, mais moderno, tenho certeza que você vai ganhar alguns minutos. Compre um carro novo, mais veloz, cuidado com o transito, afinal todos que correm nas estradas, estão tendo o mesmo pensamento que você: Tenho que ganhar tempo, tenho que chegar mais rápido. Lembre-se de comprar um carro flexível, que funcione com biodiesel, polua menos, já que quanto mais degradarmos o nosso planeta, menos tempo teremos para aproveitá-lo.

A necessidade de ganhar tempo acabou transformando as nossas gerações, em gerações doentes. Por culpa dos milhares de invenções malucas para poupar tempo, estamos cada vez mais expostos a radiação. Tudo a nossa volta está carregado de radiação, TV, celular, computador, microondas, equipamentos de áudio, eu, você. Nós somos uma bomba radioativa viva, prontos para explodir. Estamos apodrecendo aos poucos, quase imperceptível, mas estamos.

Sem contar que estamos acelerados, estressados. Não expressamos mais nossos sentimentos como deveríamos. Pela correria, deixamos de ver amigos, deixamos de ter contato, namoramos por MSN, terminamos por telefone, afinal tenho uma reunião agora, não posso me atrasar. Atraso... O atraso, conseqüência da falta de tempo, já foi capaz de destruir muitas coisas, o mais afetado pelo atraso é o amor. Quantos relacionamentos já acabaram por que alguém atrasou? Imagina você se atrasar para o seu casamento, para as mulheres isso é uma regra, mas para os homens? Se atrase pra ver o que acontece. Fim de casamento, antes mesmo de começar.

O tempo nos faz amadurecer a força, nos separa de pessoas extremamente importantes. O tempo mata, mas também traz a vida. O tempo voa, o tempo anda, o tempo pára. E quando parar pode ser tarde, faça tudo que tenha que fazer agora, não deixe pra amanhã o que pode ser feito hoje, o tempo pode parar pra você a qualquer instante. Talvez eu nem consiga terminar esse texto, por isso antes que não dê tempo, vou encerrar por aqui. Meu amigo acabou de me ligar chamando para ir a um churrasco e já está chegando aqui, tenho que me arrumar correndo, afinal o tempo não para. Bom dia... Carpe diem.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Professores, professoras

Professoras, professores,
por Ana Miranda

Graças a vocês, perdi o medo de um papel branco, quando tinha de fazer redações. Perdi o medo dos livros, quando era levada a ler os clássicos

Tenho muitos assuntos a conversar. Precisaria primeiro agradecer o que fizeram por mim, ainda hoje vocês estão dentro de minha cabeça, soprando palavras, gestos, soluções, como uma espécie de consciência adquirida. Tudo o que aprendi na escola pesa hoje em cada decisão que preciso tomar e, se tenho alguma organização mental, uma localização intelectual diante da sociedade, isso se deve aos esforços da educação escolar.

Depois, queria pedir desculpas pelo meu comportamento rebelde na adolescência, mas vocês eram a autoridade que eu tinha de enfrentar, eu precisava lutar pela minha liberdade, esse era meu temperamento, também precisava me localizar diante dos colegas e vocês eram um ótimo pretexto para eu mostrar que tinha solidariedade, coragem e ousadia.

Lamento hoje a minha teima em só fazer o que se aproximava da minha aptidão, que sempre foi a palavra, e nunca descobri os encantos da matemática, da álgebra, da física... Jamais esquecerei o professor que aceitou a minha resposta a um teorema, que escrevi em forma de poema. Ou o professor que me curou com elogios, ele depositava em mim tamanha confiança que eu não podia deixar de corresponder a suas expectativas. Ou o professor que me sugeria leituras e, graças a ele, eu sabia retirar na biblioteca da escola livros de alta literatura, como poemas de Maiakovski, textos coloniais de Hans Staden ou Jean de Léry, ou o livro de memórias e antropologia de Lévy Strauss, Tristes Trópicos. E tantas outras descobertas fascinantes.

Graças a vocês, perdi o medo de um papel branco, quando estudava na escola e tinha de fazer redações todos os dias. Perdi o medo dos livros quando era levada a ler os clássicos de nosso tesouro literário. Foi uma porta aberta, e aquela que escolhi para minha profissão. Nas aulas de Literatura, encantei-me com Gregório de Matos ou Manuel Bandeira. Lembro-me que decorei o poema O Menino Carvoeiro. Acho que nosso professor de Literatura tinha algo de especial, pois dois de seus alunos são, hoje, escritores dos mais atuantes na literatura brasileira: eu e Miltom Hatoum.

Hoje, acompanho a educação dos meus netinhos, Raphael, de 9 anos, e Gabriel, de 6. A cada dilema educacional dessas crianças, penso em como vocês são admiráveis. Acho a educação nos dias de hoje tão mais difícil... Tudo é tão mais complexo... As habilidades são muito mais exigidas, há uma variedade humana bem maior nas salas de aula, e as individualidades precisam ser mais respeitadas. O campo de conhecimentos é imensamente mais amplo. No meu tempo, levávamos lanche para a escola, na merendeira, e era uma fruta, um suco, um pão com queijo... Hoje os alimentos são variados e a maioria é uma tentação que faz mal à saúde, só isso já significa um trabalho imenso de educação alimentar. Há a educação curricular, a educação para a cidadania, a física, a emocional...Mas vocês dão conta de tudo isso, e nem sempre com as melhores condições. Reconhecemos e agradecemos. Abraços, felicidades, da Ana Miranda.

Disponível em: http://www.cartanaescola.com.br/edicoes/33/professoras-professores

BEM-VINDOS

Queridas e queridos

Começamos o ano de 2009 com as atividades de Língua Portuguesa e Literatura. Espero que você esteja feliz com a escolha da escola em que vai estudar e interessado em aprender e dividir conhecimento. Quero que fique bem claro que estou à sua disposição. Quero ser parceiro. Seu amigo. Juntos poderemos produzir muita coisa boa esse ano. Conte comigo porque estarei acreditando em você.

No mais, vamos produzir leituras, escritas e vamos trabalhar com diversas formas de linguagens. Boa sorte a todos e todas. Bem-vindos.