domingo, 15 de março de 2009

CARTA DE REPÚDIO

Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo
Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos
maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha
mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada
semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas
de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre
sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua
opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas ,
camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar
pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo,
que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais
bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira
vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário
da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os
outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo,
apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente
com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética,
certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada
por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que
é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que,
certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas
pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade
brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável,
elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em
favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais
pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos
conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da
pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido - na qual esta
política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo
que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela.
Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má
apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão
continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata
às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato
humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média
brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta
matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem
humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e
dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo
plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo
insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho,
pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há
de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o
pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país,
independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos
dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a
voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade
brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica
democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a
revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".

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